Era uma noite de luar quando Saci Pererê, com seu característico gorro vermelho e uma perna só, saltitava pela floresta encantada. Ele adorava pregar peças e fazer travessuras, mas naquela noite algo o deixou inquieto. Ele percebeu que as árvores estavam tristes, as folhas secas e os animais pareciam preocupados. O que estaria acontecendo?
Saci decidiu investigar. Saltitando entre as árvores e assobiando baixinho, encontrou Curupira, o protetor da floresta, que estava parado com uma expressão séria, seus pés virados para trás e olhos atentos.
— Curupira, o que está acontecendo? — perguntou Saci, preocupado.
Curupira suspirou e respondeu:
— A floresta está sofrendo, Saci. A água do rio está secando, e sem ela, as plantas e animais não vão sobreviver. Alguma coisa está bloqueando o fluxo do rio nas montanhas.
Saci, que adorava a floresta tanto quanto o Curupira, sentiu uma pontada de tristeza. Ele sabia que era hora de parar com as travessuras e ajudar seu amigo. Determinado a resolver o problema, ele chamou mais amigos do folclore para uma grande missão de resgate.
Logo, a Caipora apareceu, com seu bastão e o cabelo arrepiado. Ela também protegia a floresta e sabia que, juntos, teriam mais força para enfrentar qualquer desafio.
— Contem comigo! — disse a Caipora, com sua voz firme. — Eu vou chamar os animais para nos ajudar.
Juntos, Saci, Curupira e Caipora seguiram em direção às montanhas, prontos para salvar a floresta. No caminho, encontraram Iara, a sereia das águas, sentada na margem do rio. Ela estava triste, pois sua casa estava ficando sem água.
— Vocês vão mesmo tentar salvar o rio? — perguntou Iara, com esperança nos olhos.
— Vamos, Iara. Pode contar com a gente! — respondeu Saci.
Iara se juntou ao grupo, nadando pelo rio enquanto eles subiam as montanhas. Os animais da floresta, liderados pela Caipora, seguiam o grupo: macacos, onças, pássaros de todas as cores e até as borboletas dançavam ao redor, como se compreendessem a importância daquela missão.
Ao chegarem nas montanhas, os amigos se depararam com uma grande surpresa: uma barreira de pedras bloqueava a nascente do rio. Era como se a montanha tivesse desmoronado, impedindo que a água fluísse livremente.
— Precisamos remover essas pedras para que a água possa voltar a correr — disse o Curupira, observando a situação.
— Mas como vamos fazer isso? — perguntou Saci, coçando a cabeça.
Foi então que ouviram uma voz suave. A Mãe D’Água, uma entidade misteriosa que vivia nas águas profundas, emergiu da nascente, com um sorriso bondoso e olhos cheios de sabedoria.
— Vocês precisam trabalhar juntos e usar a força da natureza. Cada um de vocês possui um dom especial. Com a ajuda de todos, conseguirão remover a barreira — disse a Mãe D’Água, inspirando confiança nos amigos.
Saci teve uma ideia. Ele girou rapidamente em torno das pedras, criando um redemoinho que começou a soltar as pedras menores. A Caipora, forte e determinada, empurrava as pedras para longe, enquanto Curupira, com sua força protetora, ajudava a erguer as pedras maiores. Iara cantava uma melodia suave que inspirava todos, e os animais da floresta ajudavam da forma que podiam, puxando pequenos galhos e carregando as pedras menores.
Com muito esforço e colaboração, a barreira começou a se desfazer. As primeiras gotas de água começaram a brotar, e logo o fluxo aumentou, enchendo o leito do rio. A água voltou a correr, cristalina e cheia de vida, descendo a montanha e preenchendo o rio com sua força renovada.
Quando a última pedra foi removida, todos comemoraram. Os animais saltavam e dançavam, e a floresta parecia cantar em agradecimento. As plantas recuperavam seu brilho, e as árvores balançavam suas folhas, gratas pela água que voltava a nutrir suas raízes.
Saci, ofegante, mas com um sorriso travesso, olhou para Curupira e disse:
— Acho que eu devia fazer mais missões dessas e menos travessuras, hein?
Curupira riu e deu um tapinha no ombro de Saci.
— Você é um bom amigo da floresta, Saci. E hoje mostrou que, quando nos unimos, somos capazes de enfrentar qualquer desafio.
Ao final daquele dia, os amigos se despediram, sabendo que, juntos, haviam salvado a floresta. E sempre que a água fluía pelo rio, era como se a natureza se lembrasse daquela grande missão e dos amigos que a protegeram com tanto amor e coragem.
Fim.