Era uma vez, em uma caverna distante, um pequeno morcego chamado Bartolomeu. Ele era muito diferente de todos os outros morcegos da sua família. Enquanto seus irmãos e irmãs adoravam voar pela noite escura, explorando as florestas e caçando insetos, Bartolomeu tremia só de pensar no escuro. Isso mesmo! Um morcego com medo do escuro!
Desde que nasceu, Bartolomeu sentia que a noite não era o seu lugar. Quando o sol começava a se pôr e os outros morcegos se preparavam para sair, ele se escondia no canto mais iluminado da caverna, perto da entrada, onde ainda podia ver os últimos raios do sol desaparecendo no horizonte. “Eu não gosto do escuro”, ele repetia para si mesmo.
Sua mãe, Dona Morcega, sempre o encorajava: “Bartolomeu, querido, você é um morcego! Nós nascemos para voar à noite! O escuro é o nosso amigo. Ele nos protege e nos ajuda a encontrar nosso caminho.”
Mas Bartolomeu não conseguia acreditar nisso. “Mas e se eu me perder na escuridão? E se eu não conseguir ver nada? E se eu bater em uma árvore ou em algum animal maior que eu?”
Os irmãos de Bartolomeu, por outro lado, riam dele. “Morcego com medo do escuro! Isso é engraçado demais!” diziam eles enquanto batiam suas asas e voavam para a noite, prontos para suas aventuras.
Certa noite, Bartolomeu se sentiu particularmente triste. Ele se afastou um pouco mais do grupo e ficou olhando para o céu escuro. As estrelas brilhavam lá em cima, mas, mesmo assim, ele não se sentia corajoso o suficiente para sair da caverna. “Eu gostaria de ser como os outros”, suspirou.
Foi então que algo inesperado aconteceu.
Enquanto Bartolomeu olhava fixamente para o céu estrelado, uma pequena luz começou a brilhar perto dele. No começo, ele pensou que fosse algum vaga-lume brincando. Mas, quando a luz se aproximou, ele percebeu que era uma criaturinha bem diferente.
Era uma pequena fada, com asas delicadas que brilhavam como o luar. Seu nome era Estrelinha. “Olá, pequeno morcego!” disse ela com um sorriso gentil. “Por que está tão triste?”
Bartolomeu se assustou no começo, mas logo percebeu que Estrelinha não tinha vindo para zombar dele. “Eu… eu sou um morcego que tem medo do escuro”, confessou ele, envergonhado.
A fada olhou para ele com ternura. “Medo do escuro? Mas você é um morcego! A noite é o seu reino!”
“Eu sei”, disse Bartolomeu baixinho, “mas o escuro me assusta. Eu não consigo ver nada, e fico com medo de me perder.”
Estrelinha flutuou ao redor de Bartolomeu por alguns momentos, pensativa. “Sabe, Bartolomeu, o escuro pode ser assustador, mas ele também guarda muitos segredos bonitos. E eu posso te mostrar isso.”
Bartolomeu ergueu os olhos, curioso. “Mostrar? Como?”
“Feche os olhos por um momento e ouça ao seu redor”, disse Estrelinha com sua voz suave.
Mesmo hesitante, Bartolomeu fez o que ela pediu. Ele fechou os olhos e, por alguns instantes, ficou em silêncio, apenas escutando. No início, tudo parecia quieto demais, mas, aos poucos, ele começou a perceber pequenos sons. O vento suave balançava as folhas das árvores, os grilos cantavam em harmonia, e ele podia ouvir o eco das asas dos outros morcegos voando ao longe. O escuro, de repente, parecia menos assustador.
“Agora abra os olhos e olhe para o céu”, disse Estrelinha.
Quando Bartolomeu abriu os olhos, viu o céu cheio de estrelas brilhando como pequenas joias. “O escuro também é o lar das estrelas”, disse Estrelinha. “Sem ele, não poderíamos vê-las. E a noite guarda muitas outras belezas. O silêncio, a brisa fresca, os sons suaves. Você não precisa ter medo.”
Bartolomeu nunca tinha pensado dessa forma. O escuro não era apenas vazio. Ele também tinha sua própria magia.
“Mas… e se eu me perder voando?” Bartolomeu ainda estava um pouco receoso.
Estrelinha sorriu. “Você nunca estará sozinho, Bartolomeu. O escuro pode ser grande, mas você tem suas asas, seus ouvidos e seu coração. Eles sempre vão te guiar.”
A fada então deu um pequeno giro no ar e disse: “E, além disso, eu sempre estarei por perto. Sempre que sentir medo, basta olhar para as estrelas e lembrar que a luz delas também ilumina o seu caminho.”
Com essas palavras, Estrelinha se despediu e desapareceu, deixando apenas um rastro de luz que lentamente se apagou.
Naquela noite, Bartolomeu olhou para o céu mais uma vez. Ele respirou fundo e, pela primeira vez em sua vida, sentiu coragem. Com um bater decidido de asas, ele saiu da caverna, voando em direção à noite.
No começo, ele ainda estava um pouco nervoso. Mas, à medida que voava, ele começou a perceber que suas asas sabiam exatamente o que fazer. Ele podia sentir o vento ao seu redor, ouvir o eco das coisas à sua volta e, mesmo que não pudesse ver claramente, seu coração sabia o caminho.
Voando sob o brilho suave das estrelas, Bartolomeu finalmente entendeu o que Estrelinha quis dizer. O escuro não era inimigo. Ele era, na verdade, um amigo que lhe permitia ver o mundo de uma maneira diferente.
Quando Bartolomeu voltou para casa ao amanhecer, sua mãe e seus irmãos estavam esperando. “Você voou à noite!” exclamou Dona Morcega, orgulhosa.
Bartolomeu sorriu. “Sim, mamãe. E o escuro não é tão ruim assim. Ele guarda coisas bonitas. Basta olhar com o coração.”
E assim, Bartolomeu nunca mais teve medo do escuro. Ele se tornou um dos melhores voadores de sua família e, sempre que olhava para o céu estrelado, lembrava-se de sua amiga Estrelinha e da mágica que o escuro podia oferecer.
E todas as noites, quando se preparava para voar, ele dizia para si mesmo: “O escuro é meu amigo. E eu sou parte da noite.”
E assim, Bartolomeu viveu feliz, voando sob as estrelas, sem medo do escuro.
Fim.